quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Pai

Meu pai morreu de câncer de pulmão.
Há quase um ano e sete meses.
E eu nunca falo sobre isso. Talvez porque não possa. Não consiga exatamente dizer o que poderia dizer exatamente.
Eu nunca disse “Eu te amo” pra ele. Porque ele não deixou. Porque eu não deixei.
Esta é a primeira vez que digo com palavras que sinto saudade dele. Que muito possivelmente eu faria qualquer coisa para que tivéssemos uma segunda chance, uma chance, alguma chance.
Mas nada é fácil.
Saber que nunca jamais veremos uma pessoa, não mesmo, nunca e nunca e sempre esse nunca, saber isso, é... É... É algo mudo. Algo seco. É cinza. É meio. É nublado.
Não ter lembranças boas pra lembrar, flor sem cor, pássaro sem canto.
De quem foi a culpa?
Houve culpa?
Talvez não. Talvez uma lição, só isso. Tudo isso.
Se ele pudesse me ouvir eu diria...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Existencial

Quero ser tua causa primeira
Quero ser teu instinto profundo
Quero ser teu desejo frisante
Teu céu
Teu chão
Teu mundo

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Opiniões enfezadas

O que cada um de nós “acha” sobre isso ou aquilo leva, sempre, um pouco de nós mesmos. Assim quando dizemos algo, lá vai junto um pouco do que somos.
Explanar, exprimir, expressar...
Todos opinam sobre tudo. Assim nessa nossa república democrática que preza pela liberdade de pensamento, temos milhares de técnicos de futebol, milhares de autores de novela, de ministros do planejamento, de médicos, de advogados, de tudo quanto é tipo de especialista (em nada) curioso.
Mas isso é bom, é muito bom. A liberdade sempre, indiscutivelmente, será boa. Pode haver de não se fazer a coisa certa com a liberdade tida, mas...
Quem tem boca fala.
E eu também quero opinar, mas quero opinar sobre as opiniões.
Demorou um tempo pra eu entender que uma opinião vale muito, muitíssimo. Para quem a está dando, claro. Porque o que os outros acham, a eles pertence.
Desenvolver “orelhas seletivas” é o maior bem que um ser humano poder fazer a si mesmo.
E não estou falando pra ninguém que saio por aí dizendo à dermatologista que ela não entende nada de pele, ou ao açougueiro que eu destrincho melhor a carne. Ou ao Kotler que eu entendo mais de marketing do que ele. Não se trata de imbecilmente, ignorar o conhecimento dos outros. Não mesmo.
Mesmo porque no meu caso, minha dermatologista é ótima. Doutora Cíntia Yuri. Maravilhosa profissional.
Então, opiniões têm valor. Mas nem todas.
No primeiro concurso público que prestei todos me disseram que certamente eu iria passar. Não passei.
No segundo novas certezas absolutas de todos. Não passei.
No terceiro, velhas certezas. Só que dessa vez apostando no meu total fracasso. Passei, na primeira colocação.
E assim é todo dia. Quem gosta de você acha que você vai passar em primeiro lugar na Fuvest. Os que desgostam acham sua crônica tão péssima, nem podendo ser classificada como crônica. Dizem ser você repetitivo, que usa aspas demais... Reticências demais... Ambigüidades demais... Pode ser... Ou não...
Já os de bons olhos acham que você vai ganhar o próximo Nobel de literatura.
Exageros. De todos. Com a diferença que os amigos só querem seu bem, e aí tentam te empurrar pra cima. Bem pra cima.
Bom mesmo é quando enfim, descobrimos o que realmente não queremos e o que realmente detestamos. E, principalmente, o que realmente somos.
Mas, opinar é excelente. Opino o dia todo. Reclamo das grosserias gratuitas, das perseguições gratuitas, dos amores gratuitos, dos elogios gratuitos, das broncas gratuitas, da falta de ética gratuita... Dos crimes todos gratuitos.
Eu mesma detesto opiniões enfezadas, gratuitas.