quarta-feira, 24 de abril de 2013

Zulmira, uma perdida



Eles eram um casal incomum, o Afrânio era calmo, baixinho, careca... Muito calmo mesmo, de uma paciência sem limites.
O Afrânio tirou Zulmira de um puteiro na Rua dos Guaianazes, a chamada “boca do lixo” cruzamento da Rua Aurora, no centro de São Paulo, em tempos memoráveis berço da sociedade conservadora paulistana, com suas confeitarias chiquíssimas. Hoje decadente, ruas cheias de lixo, cheia de Night Clubs.
Foi de lá que a adorada esposa do Afrânio veio.

Numa das visitas ao Club Brisas, Afrânio conheceu a futura esposa, linda e vulgar, a maquiagem escura pesada e escorrendo pelo suor de vários programas que já havia feito naquela noite.
No próximo programa com a puta decadente, Afrânio já estava completamente apaixonado, pediu-a em casamento.

No começo tudo foram alegrias para a Zulmira: as roupas novas de mulher séria, os paninhos todos de cozinha, os bordados com o nome do casal nas toalhas de banho, a cozinha, a sala, o quarto, o banheiro sempre limpo, as comidinhas e os tapetinhos nas portas. A casa era um brinco, era um sonho. Um sonho para quem nasceu com esse sonho.
Quanto mais o tempo passava mais o calmo Afrânio idolatrava a mulher e mais a Zulmira entediava-se.
Havia algo de calmo e de bom que Zulmira não gostava naquela vida de casada. Naquele mesmo homem todas as noites, naquele cheiro de alfazema que era o dela agora.

Sentia mesmo era saudade do cigarro, da bebida, da maquiagem preta nos olhos claros, das roupas curtas e apertadas, do Poison Hypnotic, dos vários homens descartáveis que amava e odiava a cada programa, das histórias todas que ouvia.
Saudade de ser apertada, de ser possuída com raiva, com carinho, com lascívia, com prazer, com desprezo, mas de um jeito diferente de cada vez, de um jeito sujo de cada vez.

Naquele dia quando Afrânio voltou do trabalho não encontrou o jantar pronto, como sempre. Nem tampouco Zulmira cheirando a alfazema no sofá... Não havia ninguém em casa.

Zulmira não levou nada, foi embora como chegou: somente com uma calcinha vermelha de renda gasta e um rímel preto.
Zulmira voltou para a Rua dos Guaianazes, voltou a ser Samantha, seu nome de guerra.

Afrânio morreu de desgosto!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Geraldina e a repartição



Geraldina era uma clássica funcionária pública, havia anos que trabalhava no setor de Almoxarifado daquela Secretaria no Rio de Janeiro.
Ela jamais faltou um dia, jamais chegou atrasada. Era sempre a primeira a chegar à repartição, todos os dias 7:00, mesmo seu horário sendo 8:00.

Geraldina era feia, mas de uma feiúra triste, rasgada, doída.  A pele seca e enrugada como maracujá velho, as unhas carcomidas e amareladas de tanto fumar, os dentes marrons pelo excesso de café diário, os cabelos tosados opacos e desgrenhados, a roupa sempre rota e velha. A funcionária tinha um odor característico, uma mistura de cheiro de fumaça de cigarro, mofo e naftalina.


Os colegas de trabalho não desgostavam de Geraldina, ela era uma figura neutra, estava sempre lá antes de todos e após todos, estava sempre na sua cadeira, sempre!

O único problema da velha Geraldina mofada era ser caxias, era sua sempre fervorosa defesa acerca de tudo que se relacionava com o chefe, o senhor Pedro Assunção de Holanda.
A caxias não cometia erros e ainda fiscalizava aos demais colegas, relatando tudo para o Assunção.

Certa vez revoltou a todos quando solicitou num relatório em três vias que as folgas concedidas no dia dos aniversários de cada funcionário fossem suspensas, pois não estavam amparadas na legalidade.


Naquela manhã quando o Fabrício, o estagiário, entrou na repartição notou um cheiro diferente, talvez faltasse algo no ar.
Todos foram chegando naquela segunda-feira, na terça e quarta e quinta... Na sexta-feira o Assunção saiu da sala dele e perguntou onde estava a Geraldina que não havia levado o relatório semanal com o desempenho da equipe.
Com muito espanto todos perceberam que sua cadeira estava vazia, aliás, havia estado a semana toda... Geraldina havia faltado pela primeira vez na vida, e faltado por uma semana inteira. 

Ligaram pra sua casa.


Geraldina havia morrido no sábado, de asfixia por vômito, sozinha no quarto que alugava no bairro do Leme, o enterro havia sido no domingo e ninguém informou a repartição, pois não tinha nenhum familiar.


O chefe ao saber disse:

- Fabrício assuma a responsabilidade pelo relatório semanal e me entregue daqui uma hora!


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Pra que tanta hipocrisia?

A educação no ambiente de trabalho é completamente indispensável, o respeito aos colegas de trabalho é algo que, se faltar, impede a convivência.
Agora aquele excesso de simpatia, aquela futilidade intensa, aquela hipocrisia completa, isso embrulha meu estômago!
Pra que tanta hipocrisia?

Será que é mesmo necessária tanta conversa fiada e fútil?
Há pessoas que se distraem por horas com conversas no meio do escritório, falando só asneiras desnecessárias, são vinte minutos para descrever mais uma sandália que foi comprada, com todos os detalhes da fivela, sim, uma fivela é algo relevante e a patota inebriada escuta e comenta, com interjeições de "puxa que legal", " nossa que máximo"!

Sou super favorável a conversas no horário de trabalho, quando possível claro, é muito bom bater papo com as pessoas, mas que sejam temas menos idiotas e pífios.
Como posso suportar uma pessoa passar quinze minutos descrevendo uma bolachinha que comprou? Com detalhes de como faço pra chegar ao lugar da compra da bolacha a outras tantas bolachas parecidas com essa mas que não são tão boas...

Não consigo ouvir tanta asneira e fazer cara de interessada! Aliás minhas expressões faciais me entregam completamente, sempre, que droga!
Pro inferno com suas amargas bolachas e sandálias ridículas!

Nesses momentos prefiro ficar calada, melhor o silêncio à uma bocarra escancarada e vomitando futilidade!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Rascunho

Eu tenho um sonho! Na verdade uma ilusão insana! Um sonho desmiolado.
Meu sonho é ser como Braga, como Veríssimo e escrever fácil e escrever como a correnteza: fluindo!
Meu sonho talvez venha da preguiça, mãe das frustrações. Eu queria escrever de forma bela e fácil.

Queria que as palavras escoassem de mim aos saltitos, como com os mestres!
Ah... Mas não nasci assim com esse dom gratuito, totalmente gratuito, porque os mestres nasceram assim! Ao menos quero acreditar que nasceram.
Eles todos escreviam suas coisas, todas exuberantes, sem esforço!
Porque quando escrevinho minhas coisas todas, minhas coisas tolas, por vezes elas não nascem, não tem êxito.

O mundo das idéias  é tão confortável e tépido. Que mundo mágico, mas o texto, a prosa, a poesia, são tão palpáveis, tão reais. É algo que pode ser auferido, sendo assim tem suas normas, não rígidas, mas tem.
E é um lenitivo pensar que os mestres escrevem sem esforço, somente com inspiração!
Porque suas coisas são tão lindas e agradáveis e enriquecedoras e só podem surgir de um talento inato, fala minha admiração juntamente com minha inveja.

Nietzsche comparava sua inspiração ao escrever com um parto, tamanho era o sacrifício de seu surgimento.
E eu não quero um parto e sim uma tarde agradável e preguiçosa de sol.
Meu sonho é esse!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Brisa

Brisa, com você sou brisa, tempestade intensa, eu.
Mas perto de você sou toda...toda brisa.
Nos seus braços esqueço dos meus sentidos todos, dos meus erros todos, de mim toda, só sinto esse seu corpo todo, porque perto de você... Sou brisa.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Qualquer dia vou te roubar

Qualquer dia destes eu vou roubar um beijo seu
Vou roubar um abraço não dado, um abraço apertado seu
Vou roubar um desses seus olhares vazios e esquivos e não dados, só pra mim
Vou roubar esse seu corpo esguio que gosto tanto de ver sob a luz do amanhecer, ah... Vou roubar sim!
Qualquer dia destes vou te levar daqui pra longe e te roubar todas essas coisas que quero de ti
Vou roubar um toque seu e roubar essa sua boca toda em minha pele e beijos e beijos e muitos beijos seus
Vou roubar esse seu hálito em minha boca e roubar sua voz baixinha no meu ouvido
E vou roubar esse seu corpo que me faz vontade e roubar você todo e sentir seu peso e o peso todo
Qualquer dia destes eu te roubo e te carrego daqui e te tenho todo só pra mim
Mas só por um dia... Só assim... Só um roubo assim
Depois eu te devolvo
Pra depois eu ficar te olhando e querendo te roubar de novo e de novo

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O grande bordel

Este país é mesmo um bordel. Mas não é um bordel qualquer, como todos esses pequenos ou grandes, modestos ou suntuosos, que se percebem em todos os cantos do Brasil, não!
O país em si, é o maior bordel, é "o bordel", o maior bordel em atividade em todo o mundo, talvez de todo o sistema solar! E se tem bordel quem é que se prostitui? Quem é o cafetão? Quem são os clientes? Quem tem de si arrancado o mais perfeito em troca de migalhas? Quem é explorado?
Bem, a gerencia do bordel, óbvio, que fica em Brasília, isso é claro, o cafetão, na verdade, são vários, é um grupo de investidores, como se costuma chamar. De canalhas investidores, cafetinando seus próprios filhos aos de fora, por trocados, crápulas!
Os clientes, como sempre estão com a razão, com o dinheiro, com os lucros, com o petróleo, com os serviços essências, com as ações dos nossos bancos, com nossas ervas amazônicas pra depois nos revenderem, os clientes! Muito amigos, os clientes, como cooperam.
Quando estou na estação Sé do metrô às 18:00, e ela está com o triplo da sua capacidade de passageiros, e tenho que esperar 3 ou 4 trens pra conseguir entrar em um deles, entrar como a vácuo em um deles, e vir a vácuo em um deles, num calor insuportável, em pé, mas demora ainda essa viagem...Porque alguém está travando as portas...E tenho tempo pra pensar no processo que movo contra a canalha, infame e despótica, pra ser bem amena, empresa espanhola de telefone... E lembro que talvez o juiz possa ser amigo mais deles que meu...Que calor infernal!
Lembro que a justiça nesse bordel não existe, é uma falácia, um grande truque! E estou no meio disso tudo... Não do trem... No meio desse puteiro imenso... Que é meu país, infelizmente... Porque amo muito esse país, não fossem esses cafetões imundos!
Quem é mesmo que está sendo prostituído? Ah, não há mais tempo para reflexões... O metrô chegou à Barra Funda!