sábado, 30 de agosto de 2008

Inteligenteloides

Os portugueses realmente pra cá trouxeram muitas coisas interessantes: espelhos, doenças venéreas, vírus os mais diversos, toda sorte de facínoras deportados e o mais formidável de tudo: a reverencia eterna a cultura erudita européia.
Quanto ao golpe do espelho, ninguém aqui entrega mais pepitas de ouro por eles. Doenças venéreas, sem comentários. Os facínoras, bem em se tratando de facínora, temos batido ano a ano recordes de produção, com nosso gigantesco pólo-industrial-central: Brasília.
Agora a cultura erudita como pedestal intocável, como única forma possível de pensamento, como sufocadora da cultura vulgar, sim, esse nome pouco bonito quer dizer popular, está cada dia mais viva.
Eles, os portugueses, podem ter se recolhido às padarias, mas deixaram em nosso inconsciente essa adoração ao que é denso, ou seja, chato, ao que é cult, ou seja, metido a besta, ao que é intelectualizado, ou seja, não entendido pela maioria.
Tem uma classe de pessoas que se orgulha de dizer coisas que ninguém pode entender, coisas do tipo:
“O indivíduo que tem sua capacidade geradora de conceitos pilhada encontra-se de forma equivoca apto a osmose da indústria cultural”.
Seria o mesmo que dizer: “Esse idiota que aqui está é um alienado”, mas não. Melhor falar de forma a não ser entendido facilmente, falar como um pernóstico retardado.
Gostar de coisas que ninguém em sã consciência poderia gostar, porque é um porre. Como uma mostra de cinema mudo a respeito da paralisação da economia agrária do Uzbequistão.
Na verdade eles não gostam, porque ninguém gosta de coisa densa, todos dizem que gostam, é diferente. Porque como sempre repito, o que importa não é ser inteligente, e sim parecer inteligente.
Não estou aqui fazendo apologia à bestialidade, nem tampouco desvirtuando o saber acadêmico, cientifico, nada disso, estaria sendo uma hipócrita se o fizesse, pois tenho lá minhas predileções de cultura não muito acessíveis ao entendimento geral, não é esse o caso.
Porque uma coisa é gostar de semiótica e fenomenologia, como eu particularmente gosto, outra é num bar depois de muitas vodkas, lá pelas tantas ficar vomitando conceitos indecifráveis a essa altura etílica.
E eu também gosto do popular. Leio Machado de Assis sim, mas vejo Big Brother. Amo Augusto dos Anjos e também Mafalda. Choro ao ouvir a 9° de Beethoven, mas também me emociono com a Timbalada. Devoro Florbela Espanca e Literatura de Cordel. Gosto de ópera e de Luiz Gonzaga. E não fico recitando Arnaldo Jabor num sábado a noite, aliás, Jabor e Rubem, meus ídolos cronistas.
E desprezo determinados indivíduos pertencentes a especificas facções acadêmicas, alguns da Comunicação Social que em algum momento ouviram alguém lhes dizer que devam ser uns pedantes retrógrados. Bando de abutres afetados, vestidos da cabeça aos pés com os signos cult e alternativo que nós da Publicidade dissemos a eles que usassem!
Tenham suas próprias opiniões que vocês não são Dieckens!
Inteligente é quem se faz entender.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Flor e trovão

Nós, mulheres fortes, somos normalmente alvo de admiração, ou até de inveja. Mas somos notadas por nossa força, nossa superação.É muito bom ser forte, ser determinada, ouvir os outros, ajudar, resolver problemas, enxugar lágrimas, saber sorrir. É muito bom. Mas há momentos em que nós, mulheres fortes, queremos chorar muito e soluçar muito e deixar tudo pra que outra pessoa mais forte que nós resolva. Mas, isso é difícil, é raro.E você é inquirida sobre o porquê de não estar com namorado, ou noivo ou marido.É porque mulheres de verdade, mulheres realmente de verdade, são contundentes, são como rochas, como lírios, como água, como raio... Não precisamos de ninguém pra carregar, apesar de sermos capazes de carregar o mundo. Desejamos que nos façam sorrir e chorar e sonhar que comprem nosso biscoito preferido e chamem o encanador e façam a transferência do veículo... Desejamos tudo isso pelo simples fato de sermos perfeitamente capazes de fazer, além disso, ainda outras 999 coisas... Mas apesar de sermos assim também somos manhosas e gostamos de mimos, mas só de homens de verdade, homens verdadeiramente de verdade, homens muito de verdade.
Guerreiras sentem sede e anseiam com sombra, as vezes...

sábado, 23 de agosto de 2008

A existência

Simão aos quatro anos fez um castelinho de areia e sonhou. Leonel aos cinco anos catalogou todas as árvores do quintal. Gabriela aos seis anos passava seus dias de ócio olhando pro céu.
Simão aos sete chorou, chorou muito porque o castelinho ruiu, ele o perdeu. Leonel aos sete era o intrigante aluno perfeito, e quieto e perfeito, sempre. Gabriela já tão cedo sentia o peso do mundo com uma vida difícil e dura, sentia fome.
Aos dez anos Simão decidiu erguer outro castelo. E Gabriela disse que jamais sentiria fome outra vez. Leonel teve seu primeiro livro publicado, era sobre o efeito da fome na infância, que ele nunca sentiu.
Aos quinze, Leonel era o mais perfeito aluno e filho e neto, continuava catalogando coisas. E Simão continuava criando coisas, seus castelos agora, ainda caiam, mas ele aprendia. Gabriela descobria que a dor molda um espírito, assim como o fogo a espada. E Simão fez um amigo, e Gabriela um amor e Leonel uma tese.
Com vinte anos Leonel já estava praticamente formado, seu catálogo crescia mais e mais. Gabriela com essa idade sonhava com a faculdade, parecia impossível. Simão começou a vender algodão doce.
Os anos perderam-se no tempo, mas Gabriela percebia que as feridas da vida cicatrizavam e a pele nesse lugar era grossa, mais que antes. Leonel chegou ao ápice de suas conquistas, acabou. Simão não deu certo como vendedor de algodão doce.
Gabriela conseguiu seu sonho com trabalho e ainda tinha amigos e tinha amor e tinha coração e uma conta no banco. E Simão levantou um circo e tinha palhaços e tinha algodão doce e tinha felicidade e ainda muitos amigos. E os dois ainda não tinham acabado e o mundo estava apenas começando, porque tinham sonhos e um coração.
Leonel, esse tinha títulos e livros e estantes e catálogos e teses e dias e dias e muitos dias de uma vida inteiramente vazia pra viver eternamente.

domingo, 17 de agosto de 2008

Leve e solta

Tô aqui agora tentando escrever uma crônica que seja dinâmica e leve e agradável, acho mesmo que atualmente é disso que precisamos, um pouco. Às vezes meus amigos me pedem crônicas, pedem para que eu escreva sobre isso, sobre aquilo. Gosto muito disso, do interesse deles. Mas uma dúvida me inquieta, será que eles lêem porque são meus amigos, ou são meus amigos porque lêem minhas crônicas ? Sei lá... O caso é que difícil é parar e escrever uma crônica, porque ora é o celular que chama, ora é você que chama alguém. Tem o msn, o raio de msn, que você não consegue deixar de lado por nada. Você passa a semana toda vendo uma amiga e quando a encontra no msn é como se fosse a primeira vez que a vê em anos.
Sinceramente creio que eu pareceria muito mais intelectualizada se tivesse dito isso que acabei de dizer de forma mais acadêmica. Algo assim: a realidade contemporânea havendo em novas mídias com múltiplas interfaces de relacionamento não presenciais, a aldeia global e a solidão do individuo enquanto peça da industria cultural.
É aquilo que sempre digo, o importante, as vezes, é parecer inteligente e não ser inteligente.
Mas o caso não é a retórica, o caso é que preciso escrever coisas legais de serem lidas, mas todas as coisas legais e não legais que acontecem simultaneamente roubam minha concentração, porque as mensagens e os signos e tudo ficam flutuando pelo meu mundo.
Sem contar essa minha mente criativa de publicitária com uma mão e 7/8 de outra no diploma.
Eu vez ou outra penso que deveria ser mais informal, assim no discurso, não ser tão apegada as regras de semântica, fazer um texto coloquial, não sei...
Agora foi minha mãe que me chamou pra ver o Cauã Reymond na televisão, quase imperdoável isso, não fosse aquele abdômen dele...
Mas voltando ao foco central e inicial, meu objetivo é que essa crônica seja leve e agradável aos meus leitores (sinto-me nesse instante como Rubem, só sinto-me). Porém vejo que concentrar-se na atualidade é tarefa pra monge budista.
Ah, essa minha indisciplina existencial.... rsss ( isso é permitido numa crônica?)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

No way

Amor pedido
Amizade insistida
Pôster amassado
É igual beijo babado:
Só serve longe do meu lado

domingo, 10 de agosto de 2008

Felizes são os bobos

A chuva a eles não molha.
A dor a eles não atinge.
A verdade a eles não se mostra.
O feio a eles não assusta.
De surdos que são, de cegos que se fazem, ilesos pela vida afora vão.
Os bobos.
Da vida só o nome levarão.

sábado, 9 de agosto de 2008

Mulher maravilha

Ela era inteligente e sensível e amável. Ela era uma ótima cozinheira e divertida e boa ouvinte. Ela sabia declamar poesias e cantar belas musicas e falar sobre arte e cultura. Ela era dona de um corpo cheiroso e bonito e atraente e quente. Ela falava com uma voz doce e calma e branda. Seu vocabulário era vasto e sofisticado e bonito. Ela era notada e admirada e invejada. Ela era mulher e menina e contagiante e tão bonita e tão apaixonante. Ela era magra e alta e cabeluda e belos cabelos e negros. Era diplomática e sincera e forte e empreendedora. E organizada e bem sucedida e bem vestida. Ela era bem educada e econômica e asseada. Ela era independente e forte e notável. E inesquecível e amor único e maior de muitos. E era tão inteligente e brilhante e criativa. Ela era aquela que tinha a boca linda e grande e carnuda e vermelha. E seu hálito era de maçã. Ela era tão autônoma. E era boa filha e boa amiga e boa contribuinte e boa pagadora e boa aluna. Era mesmo a melhor em tudo isso. E era humilde e sensata e cordata e ponderada. Era equilibrada e branda e quando sim contundente e austera. E ela brilhava e tinha tanta energia. Ela era profunda e analítica e suave e agradável. Era sensual e charmosa e carinhosa e verdadeira e politizada. E era real e tinha a brandura da brisa e a arrebatação do furacão. E tantos diziam de suas grandezas. E tantas vitórias. E era tão requisitada e chamada.
E ela era tão triste e ensimesmada e vazia e por noites frias sozinha chorava sua perfeição...

domingo, 3 de agosto de 2008

Ento

Pro bolo fermento
Pra dor ungüento
Parede cimento
Tragédia lamento
Deus firmamento
Impunidade descaramento
Pro jovem intento
Trabalho provento
Cachorro sedento
Eu rico ostento
Eu pobre sofrimento
Eu justo tento

Tudo acabado

Brad Pitt cheira mal...
Foi isso que ouvi essa semana em um programa de celebridades, sim eu assisto esse tipo de programa, claro que você não vê esse tipo de coisa, claro!
Mas eu que vejo, eu ouvi isso...que o homem mais bonito que já houve nesse mundo não é lá muito cheiroro...Não!!! Que lástima...Mas pode ser mais uma mentira...Pode...
Porém, tal boato não veio do nada...É quase um crime que aquela imagem completamente perfeita não esteja associada a um cheiro igual...
Meu mundo caiu...rsss...
Agradeço todo dia por ter tido a oportunidade de ter avós índias...Daí que veio nosso hábito muito salutar de tomar banho diário...Devemos é agradecer aos portugueses...rsss
Mas, mesmo fedido...Brad...Ê lá em casa!!!

P.S. Mais sobre nossas avós indias em Darcy Ribeiro, O povo brasileiro.

Esquivo

Na chuva sem se molhar
Na praia sem contemplar
No luar sem divagar
No campo sem respirar
Na morte sem chorar
Na vida sem amar