quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O grande bordel

Este país é mesmo um bordel. Mas não é um bordel qualquer, como todos esses pequenos ou grandes, modestos ou suntuosos, que se percebem em todos os cantos do Brasil, não!
O país em si, é o maior bordel, é "o bordel", o maior bordel em atividade em todo o mundo, talvez de todo o sistema solar! E se tem bordel quem é que se prostitui? Quem é o cafetão? Quem são os clientes? Quem tem de si arrancado o mais perfeito em troca de migalhas? Quem é explorado?
Bem, a gerencia do bordel, óbvio, que fica em Brasília, isso é claro, o cafetão, na verdade, são vários, é um grupo de investidores, como se costuma chamar. De canalhas investidores, cafetinando seus próprios filhos aos de fora, por trocados, crápulas!
Os clientes, como sempre estão com a razão, com o dinheiro, com os lucros, com o petróleo, com os serviços essências, com as ações dos nossos bancos, com nossas ervas amazônicas pra depois nos revenderem, os clientes! Muito amigos, os clientes, como cooperam.
Quando estou na estação Sé do metrô às 18:00, e ela está com o triplo da sua capacidade de passageiros, e tenho que esperar 3 ou 4 trens pra conseguir entrar em um deles, entrar como a vácuo em um deles, e vir a vácuo em um deles, num calor insuportável, em pé, mas demora ainda essa viagem...Porque alguém está travando as portas...E tenho tempo pra pensar no processo que movo contra a canalha, infame e despótica, pra ser bem amena, empresa espanhola de telefone... E lembro que talvez o juiz possa ser amigo mais deles que meu...Que calor infernal!
Lembro que a justiça nesse bordel não existe, é uma falácia, um grande truque! E estou no meio disso tudo... Não do trem... No meio desse puteiro imenso... Que é meu país, infelizmente... Porque amo muito esse país, não fossem esses cafetões imundos!
Quem é mesmo que está sendo prostituído? Ah, não há mais tempo para reflexões... O metrô chegou à Barra Funda!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Le soleil

De tudo que se vê, de tudo que se teve, de tudo que se tocou que se sentiu... Cada brisa, cada cor... Cada perfume... Tudo ficou onde estava. Não trouxe nada comigo.
Aprendi a deixar passar.
Deixar passar é um dos grandes momentos da vida. Como uma anciã, sinto-me. Não, não ainda, pois que não deixo tudo ainda passar, muitas coisas ainda se prendem, ainda se agarram em mim, ainda se impregnam em minhas roupas, ainda se enroscam em meus cabelos, ainda se ficam em meus pelos... Ficando na minha memória.
Coisas como aquele pôr-do-sol em Morro de São Paulo, coisas assim, coisas que ficam no espírito pra sempre, talvez porque eu queira mesmo que fiquem. Fiquem, fiquem comigo!
É leve, muito leve deixar partir, trazer pra si só o que cabe num olhar!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Meia rasgada: joga-se no lixo!

Fica por favor, não vivo sem você, fica, morro, se te perco, você é meu ar, fica, por favor, eu que te amo!
Ela se enroscou em suas suas pernas, ele a arrastou pela casa, suas pernas doeram quando rasparam o sofá, ela raclamou...Ele teve pena, pegou-a do chão, limpou suas lágrimas, mas disse que não a amava...Ela quebrou os copos todos, os enfeites dele, cafonas todos, todos que a mãe cafona toda tinha dado, a mãe que ela odiava, quebrou tudo. Quebrou toda a pilha de pratos, justo os pretos retagulares, seus preferidos, gritou com ele...Chorou mais...Eu te amo...Fica!!
Vai embora, não te amo mais!
Quando entrou no carro, viu que havia esquecido de levar o presente que havia comprado pra ele, um maravilhoso perfume, gostou de ter esquecido...Melhor, daria a outro...Olhou no espelho, havia borrado todo o rímel, pegou a bolsa com a a maquiagem, retocou tudo, respirou, colocou salsa pra ouvir no rádio do carro...Passou no shopping, não sabia ao certo o que fazer passou lá...Meio perdida quando...Nossa!! Que sandália linda!!! Perfeita com aquele saia!!
Percebeu então que a meia-calça estava rasgada, deve ter sido quando esteve no chão, quando foi arrastada, quando estava caída. Mas agora já não estava mais, já se levantara, foi ao banheiro, tirou a meia, jogou no lixo. Certas coisas jogam-se no lixo, assim facilmente, assim! Ficava mais bonita sem meias, tinha pernas bonitas. Comprou a sandália. Foi dançar salsa.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O estupro das palavras

São violadas, tem de si arrancadas algo que não querem ceder. E não querem ceder porque não podem ceder. Assim se dá o estupro das palavras.
São usadas para nomear e qualificar coisas, situações, sentimentos de uma forma diversa da original.
Daí a necessidade de se intensificar a palavra quando está sendo usada de verdade, sinceramente, no seu sentido real, inicial. Quando ela cede seu significado sem traumas, quando não é usurpada.
A palavra “amor” talvez seja uma das mais agredidas atualmente. O “eu te amo” não vale mais nada. Nada, de absolutamente nada mesmo. Tanto que quando alguém ama outro alguém, realmente, essa pessoa costuma dizer “te amo, de verdade”. Para que esse “de verdade”?
Porque o “eu te amo” é dito hoje como quem diz “olá”. E amar alguém é algo... Algo sobre o qual eu não tenho grandeza suficiente pra falar. Algo muito além de redes sócias e fins de noites boêmias.
“Amizade”, realmente alguém há de redefinir “amizade”. Perdeu o sentido essa palavra. E mais uma vez você tem de dizer “tal pessoa é meu amigo, amigo de verdade”. Porque existem todos os outros amigos de mentira. "Amigo" hoje, basicamente, é o nome que se dá às pessoas com as quais se transou, aí se inclui todo tipo de “ex”, às pessoas com as quais se transa e às pessoas com as quais se quer transar. E amizade é algo dissonante de corpo, é algo ligado a fraternidade, ao interior, amor de irmão. Tesão e sexo casual seriam termos melhor empregados.
“Linda”, tudo bem que beleza é algo que passa por certo senso pessoal e tudo mais, porém certas características fazem de algumas pessoas inegavelmente belas e de outras não tão dotadas de beleza exterior. Porém se diz “linda” para tudo e todos. Eu pessoalmente detesto quando determinadas pessoas me chamam de linda. É quase um xingamento, não quero ser esse “neo-linda”.
“Namoro”, essa, coitada, perdida nesse limbo de violação semântica. Tanto que pra qualificar um namoro real as pessoas recorrem ao “namorando sério”. Porque dizer que se está “namorando” não basta. Estar “namorando” não é bem namorando.
Creio que tudo faça parte de uma legião de pessoas perdidas. A hipocrisia e a afetação se fizeram imperadoras. Das palavras só resta a forma. Nas pessoas uma vaga lembrança do que seriam sentimentos reais. Banalização, violação, pilhagem!

quarta-feira, 31 de março de 2010

Pérolas e porcos

Dona Ana havia feito uma faxina super cuidadosa, aplicou desodorizador em toda a casa, comprou flores lindas, tudo como André pediu.
Quando André chegou do trabalho, nervoso, ansioso, estava tudo como ele havia combinado com Dona Ana, e, ainda um bilhetinho escrito num guardanapo em cima da mesa: Boa sorte André!
Quando chegou ainda faltavam duas horas para Kátia chegar. Foi tomar banho. Demorou só dez minutos no banho.
Colocou a camisa preta que Kátia mais gostava, o perfume que ela mais gostava, o cabelo do jeito que ela mais gostava. Estava pronto. Tão rápido! Que bom ser homem, nessas horas.
Ainda havia tempo. Pegou as sacolas que trouxe da rua, acendeu o incenso preferido dela. O vinho que eles gostavam estava gelando, então, colocou as taças também pra gelar. Ela gostava assim. Bem, ele achava que ela gostava assim, porque era sempre assim que ele fazia.
Foi até o armário, pegou uma caixinha pequena, preta de veludo, nela o anel. Iria pedi-la em casamento, nessa noite.
Tudo pronto. Apagou algumas luzes, deixou uma penumbra confortável. Colocou Billie Holiday pra tocar. Engraçado que esse cd havia sido presente da primeira namorada dele, a Carla... Bateu dúvida: ele gostava de Billie, mas Kátia não, ela gostava de pagode, preferia Exalta Samba, mas ele não queria ouvir isso... Trocou então por Ben Harper... Hoje não poderia fazer o imenso esforço de ouvir pagode, não hoje.
Kátia era tão diferente dele. Mas ele nunca pensava nisso. Mas agora nessa hora de escolher a música para fazer o pedido... Ele se deu conta... Mas ele a amava tanto... Ela era tão... Tão... Ela era bronzeada, olhos verdes, cabelos lindos loiros compridos, corpo torneado, malhado e escultural... Ela era tão especial... Eles... Eles se davam tão bem... Ele achava que sim.
Ela chegou!
Coração quase pulando pela boca, André abre a porta.
Kátia estava vestida com uma calça branca, justíssima, top rosa decotadíssimo, os seios pulando pra fora, as marcas de biquíni todas à mostra, sandália de salto altíssimo, perfume Carolina Herrera 212 Sexy, o cabelo lindo solto, unhas vermelhas. Entrou.
André estremeceu com essa visão, Kátia passou pela porta, deu um selinho nele. André não conseguia conter a emoção, a mulher mais linda do mundo, que ele amava perdidamente, ali. Ela colocou a imensa bolsa no sofá, ele foi em direção a ela, ia abraçá-la...
-André você acredita que o idiota do Armando passou aquele evento do salão do automóvel pra Carol? Mano fiquei possessa! Sou muito melhor que a Carol. Garota seca, desbotada, sem graça. Mano... Mas também falei uma pá pra ele. Ainda veio com idéia de loco pra cima de mim. Dá licença mano. Não quero nem saber. Também liguei pro Jorginho e falei que se ele não mandar o Armando tirar a Carol e colocar eu, eu saio fora de lá. Dá licença mano... Então... Só passei pra dizer que hoje não vai dar pra eu ficar aqui. Amanhã cedo tenho umas fotos lá naquela parada que te falei, pra conseguir a campanha... Mano... Hoje to muito nervosa... Tô indo amor... Dá bezinho...Tchau...Esse tapetinho da porta é novo? Beijo amor!
André tirou o cd do Ben Harper, colocou Howlin Wolf... Lembrou do dia que havia levado uma flor, uma única flor pra Carla, e entregado na catraca da estação de metrô Sé... Seus olhos brilhavam de alegria. Ela guardou a flor, por anos, até onde ele soube, dentro do exemplar de Madame Bovary que eles haviam comprado juntos no sebo.

terça-feira, 23 de março de 2010

E esse seu olhar...

Sim, vou, vamos, façamos isso, já que estamos aqui, façamos. Não se tem nada a perder. E por supor algumas coisas banais que nos perdemos, achando. Mas está tão longe, é tudo tão improvável, só um instante, um lance, um olhar, um abraço, um perfume pairando no ar. Vou sair correndo daqui. Vou pagar pra ver. Somos tão invulneráveis. Os planos estão todos traçados. Metas determinadas. Acasos não abalam certezas absolutas. Absolutas? Volta aqui! Vou ficar aqui. Tá vendo aquelas luzes? Cheiro bom. Um abraço. Um selo. Um elo. Vamos então! São quinze minutos. Rápido chegaremos. Mas e os planos? E a rota? Meu GPS interno se autoconfigurou. Momentos. Não importa. Mas a voz emudece. O olhar suaviza. Onde estou? É tudo tépido, intensa flutuação, inundação de emoções, perdição de todos os sentidos, incerteza completa, é só uma noite, alguns minutos insanos nesse vácuo de inconsciência louca e intensa . De certo, apenas que não há certeza. Colisão de rotas. Impacto. Desnorteio repentino. Prosseguimos? Pra onde?
Foi o olhar, só o seu olhar, só um olhar, foi só o seu olhar, seu olhar, olhando, olhou.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Pra você nada tenho

Não te dou!
Por favor, só um pedaço!?
Não!
Mas por quê?
Não consigo entender, o porquê?
Pra você não dou!
Espere, você não tem ou tem e não quer dar pra mim?
Enfim, entendeste: eu tenho, tenho muito, abastadamente, só pra você que não dou!
Muito bem, isso é essencial de se saber!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Olhar você

Se fosse uma cor, seria dourado.
E se fosse um horário, seria manhã.
Teu corpo esguio, indefeso e calmo.
O sono pueril, teus cabelos lindos macios.
E se fosse sensação, seria o êxtase.
Momento perpétuo de prazer insondável.
E adjetivo: delícia!
E se fosse um nome, seria o seu.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Qual foi a semente que você plantou?

Nossas ações, por vezes, parecem ser totalmente caóticas. Como se as pequenas coisas que fizéssemos fossem se encerrar ali no instante vivido.
Mas vejo claramente as reações das ações. Reações boas e más. Sempre reações.
E é como se houvesse uma formula, algo quase matemático, que sempre define que para tais tipos de ações necessariamente virão específicos tipos de reações.
Alguns crentes acreditam ser isso justiça, outros descrentes apenas acaso, outros metafisicos chamam de lei da atração, os físicos de ação e reação.
Eu, como cristã convicta, chamo de justiça.
É claro que sempre haverá a questão: por que coisas ruins acontecem com pessoas boas e, ainda, por que coisas boas acontecem com pessoas ruins?
Seria menos penosa a resposta se possível fosse delimitar exatamente as pessoas boas e más.
Não sei a resposta dessa pergunta, nem a mim caberia saber.
Porém trago um discreto sorriso no rosto, por já ter visto e revisto e visto novamente que, leve o nome que levar, existe sim esse equilíbrio, e todas as ações geram uma volta. Pro mal ou pro bem, o certo é que todas as coisas voltam para onde foram originadas.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Etiqueta para quem...

Acredita no ser humano: utópico, esperançoso ou idiota?
Acha que tem um relacionamento perfeito: cego, tolo ou corno?
Diz importa-se somente com a beleza interior: hipócrita, escritor de livros de auto-ajuda ou modelo casado com top model?
Diz não se balançar pelo amigo gatíssimo: lésbica, cínica ou muito sonsa?
Diz amar outra pessoa conhecida há uma semana: mentirosa, cretina ou pulha?
Diz não saber amar: maquiavélico, manipulador ou desgraçado?
Apega-se às pessoas facilmente: humano, estúpido ou incauto?
Fica tentando dar nomes às pessoas: infame, reflexiva ou inimiga?